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O passado no presente

Na longa mesa, pratarias, cristais, porcelanas e candelabros iluminando o ambiente; somente as extremidades da mesma estavam ocupadas – num extremo ele, no outro, ela.

Os alimentos, trazidos por serviçais silenciosos, eram apresentados de modo tal, que nenhum dos dois pudesse macular as rendas e babados de suas vestes.

Não havia música no ambiente e o único discreto ruído era dos serviçais alternando os pratos.

Eles apenas se olhavam e neste olhar-se dirigiam um ao outro, extremo rancor, como se estivessem frente a um inimigo.

Haviam se casado por interesses familiares, como era costume na época, mas durante um razoável período de tempo haviam se entendido, ela submissamente acolhendo as vontades dele e ele, buscando nela suas pessoais satisfações.

Após o nascimento do único filho, a relação entre eles se alterou, ainda que ela continuasse a priorizar as vontades daquele que considerava seu amo e senhor, já não conseguiam esconder a insatisfação mútua.

Para ele, era como se ela houvesse perdido o pouco valor que lhe atribuía, pois cumprira sua função de dar-lhe um herdeiro; para ela, ocorrera o despertar para sentimentos que até então não se permitira manifestar, como carinho, afeto, amor e percebeu que dava muito e não recebia nada que satisfizesse minimamente seus anseios afetivos.

Estavam neste estágio no momento daquela refeição silenciosa e rancorosa que, quando concluída, fez com que se encaminhassem cada qual para seus aposentos.

Ela, antes de se recolher, foi até o filho que dormia placidamente e beijou-o com carinho.

Ele passou por seu aposento e após trocar os trajes do dia pelos da noite, foi ao encontro dela.

Ela sem olhá-lo nos olhos, como fizera durante a refeição, alegou indisposição para atender sua solicitação de intimidade entre eles.

Ele fez como se não tivesse ouvido e forçou-a a atendê-lo e foi justamente durante este intercurso que ele teve um mal estar violento e desabou ao lado dela, já sem vida.

Assim se separaram, naquela existência.

No hoje, encontram-se unidos num grupo familiar, onde ela tem extrema dificuldade em entregar-se a ele e ele, após o nascimento da filha, passou a sentir cada vez mais atração por ela, não entendendo porque ela, ainda que o ame e disto ele não tem dúvidas, apresenta um comportamento tão retraído quando estão em intimidade.

Acreditamos que nossa narrativa sirva de exemplo daquilo que acontece entre familiares, amigos, grupos de caridade e afins.

Todos têm, no hoje, a possibilidade de um renascimento interno, de uma melhor compreensão sobre o que lhes ocorre e, ainda, de não se atormentarem por aquilo que, mais das vezes, se torna incompreensível.

Por isto, tanto já repetimos que estão onde e com quem precisam estar, em qualquer que seja a circunstância de suas existências.

Reflitam, analisem e agradeçam ao Pai a possibilidade destes reencontros ocorrerem na materialidade.

Amigos de sempre

Recebida pela Magali em 18/08/2012

Revisão: Clovis