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Pequena narrativa de uma partida

Como pode ser tão angustiante o despertar após a passagem que nos surpreendeu e pela qual não esperávamos naquele exato momento!

É como o desabar do Mundo nos deixando sem perspectivas, sem amanhã e nada pudemos fazer para evitar que fosse assim.

Nada podemos fazer, só nos resta seguir em frente, sem leme para dirigir nossos passos, desconhecendo o caminho que teremos pela frente.

É extremamente confuso este momento, parece que uma força nos carrega, impulsiona-nos e não podemos parar; não temos a menor consciência, ou melhor dito, uma consciência nos direciona no nosso estado, depois, não temos domínio nem vontade.

Percebemos vozes que nos tranqüilizam, aquietam nossa ansiedade; perdemos a noção de tempo, tudo se passa rapidamente; sentimos que não estamos sós neste percurso até então desconhecido.

Passamos por locais indescritíveis onde falta o som, a cor, a luz clara. Por momentos perdemos a noção de quem somos e do que está acontecendo, um desligar momentâneo nos invade, um torpor nos domina e quando retornamos à consciência outro é o aspecto que nos cerca, parecendo-nos que houve uma quebra no tempo.

A angústia, a ansiedade são companheiras e desejamos delas nos libertarmos, para podermos ficar em paz, acordar da situação que enfrentamos, acordar do sonho mau e retornarmos à vida a qual não voltaremos, embora o quanto a desejemos.

– Por que fomos surpreendidos?

– Por que assim aconteceu sem termos recebido nenhum aviso?

– Por que não tivemos tempo para nos preparar, para despedir?

– Por que o silêncio se impõe, a comunicação se rompe?

– Por que a ausência se faz sofrida? Sofremos e nossa ausência traz sofrimento para quem ficou.

– Por que este apego à vida e o temor do desconhecido?

Questiono-me, pois sabia que tudo é passageiro na vida, mas não estamos preparados para partir e deixar quem amamos.

Agora, a distância nos separa, só nos resta reconhecer que o afeto, o amor não deixarão de existir e não seremos esquecidos. Dói fundo esta realidade que estou a viver.

 

João Carlos

Recebido pela Nydia em 12.04.2008.

Revisão: Clovis